Por que os
professores deveriam ganhar mais? Eis uma pergunta que não quer calar. Nem
deve. No Brasil, assim como na América Latina em geral, sucessivos governos -
nos níveis municipal, estadual e federal - enfrentam reivindicações, protestos
e greves de professores por melhores salários e condições de trabalho. Nenhum
governo escapa, tenha a coloração política que tiver. Nenhum deles nega o
problema. Parece haver consenso entre eles sobre a insuficiência do salário dos
professores. O mesmo não ocorre no seio da sociedade, onde surgem argumentos
como o de que o salário dos docentes tem pouco ou nenhum impacto sobre a
qualidade da educação. Afinal, por que os professores não deveriam ganhar mais?
O discurso oficial em todas as esferas da administração pública estabelece a educação como prioridade. Prefeitos, governadores e presidentes da República têm reservado lugar de honra à educação em suas plataformas políticas. O salário dos professores, porém, ainda não condiz com essa posição, sobretudo nos âmbitos municipal e estadual, onde se encontra a maioria do corpo docente brasileiro, responsável pelo ensino fundamental e médio. A adoção do Fundeb repara parte do problema, mas ainda não o soluciona.
A pesquisa “O perfil dos professores brasileiros”, de 2004, revela que 65,5% dos professores têm renda familiar entre dois e dez salários mínimos, e que 36,6% ficam na faixa entre cinco e dez salários mínimos. O estudo destaca que aproximadamente um terço dos docentes se classifica como pobre. A maioria deles se considera pertencente à classe média baixa. A origem deles tampouco é melhor, em termos econômicos.
A mesma pesquisa revela que 67,6% dos professores têm curso superior, enquanto 32,3% deles têm apenas o ensino médio. E salienta: “A formação do professor constitui variável correlacionada com sua renda familiar”. Segundo o relatório “Lápis, borracha e teclado”, lançado recentemente pela Rede de Informação Tecnológica Latino-Americana (Ritla), pouco mais da metade dos professores brasileiros (54,1%) manifestou ter utilizado a internet nos três meses anteriores à data da pesquisa (no caso, a PNAD 2005). Mas esse índice varia muito segundo a região. Mal chega a 35% no Norte e no Nordeste, por exemplo.
Como exigir educação de qualidade para todos, quando os responsáveis por ministrá-la não dispõem de condições suficientes para se graduar em universidades de primeiro nível, cursar pós-graduação, viajar, ter acesso às novas tecnologias e à internet, assinar jornais e revistas, aprender idiomas? Sem salário digno e competitivo em relação a outras ocupações, como os professores podem se sentir cidadãos de maneira a formar outros cidadãos para o mundo contemporâneo? Sem salário digno, similar a outras categorias profissionais mais bem remuneradas, como conseguir incorporar ao magistério os melhores alunos do ensino médio e da graduação? Ter a educação como prioridade deve implicar ter os professores como prioridade.
Sabe-se que o problema é complexo, e a docência é hoje uma profissão de massas. Aumentar o salário dos docentes na proporção que os desafios atuais exigem teria grande impacto nos orçamentos federal, estadual e municipal. Mas é indispensável avançar gradualmente, acompanhando o aumento salarial com avanços na profissionalização, formação, reciclagem e responsabilidade pelos resultados. Professores bem remunerados podem não significar necessariamente uma melhora do ensino em curto prazo, mas certamente em médio e longo prazos a presença de professores bem pagos fará diferença nas salas de aula.
Fonte: Jornal O Globo
O discurso oficial em todas as esferas da administração pública estabelece a educação como prioridade. Prefeitos, governadores e presidentes da República têm reservado lugar de honra à educação em suas plataformas políticas. O salário dos professores, porém, ainda não condiz com essa posição, sobretudo nos âmbitos municipal e estadual, onde se encontra a maioria do corpo docente brasileiro, responsável pelo ensino fundamental e médio. A adoção do Fundeb repara parte do problema, mas ainda não o soluciona.
A pesquisa “O perfil dos professores brasileiros”, de 2004, revela que 65,5% dos professores têm renda familiar entre dois e dez salários mínimos, e que 36,6% ficam na faixa entre cinco e dez salários mínimos. O estudo destaca que aproximadamente um terço dos docentes se classifica como pobre. A maioria deles se considera pertencente à classe média baixa. A origem deles tampouco é melhor, em termos econômicos.
A mesma pesquisa revela que 67,6% dos professores têm curso superior, enquanto 32,3% deles têm apenas o ensino médio. E salienta: “A formação do professor constitui variável correlacionada com sua renda familiar”. Segundo o relatório “Lápis, borracha e teclado”, lançado recentemente pela Rede de Informação Tecnológica Latino-Americana (Ritla), pouco mais da metade dos professores brasileiros (54,1%) manifestou ter utilizado a internet nos três meses anteriores à data da pesquisa (no caso, a PNAD 2005). Mas esse índice varia muito segundo a região. Mal chega a 35% no Norte e no Nordeste, por exemplo.
Como exigir educação de qualidade para todos, quando os responsáveis por ministrá-la não dispõem de condições suficientes para se graduar em universidades de primeiro nível, cursar pós-graduação, viajar, ter acesso às novas tecnologias e à internet, assinar jornais e revistas, aprender idiomas? Sem salário digno e competitivo em relação a outras ocupações, como os professores podem se sentir cidadãos de maneira a formar outros cidadãos para o mundo contemporâneo? Sem salário digno, similar a outras categorias profissionais mais bem remuneradas, como conseguir incorporar ao magistério os melhores alunos do ensino médio e da graduação? Ter a educação como prioridade deve implicar ter os professores como prioridade.
Sabe-se que o problema é complexo, e a docência é hoje uma profissão de massas. Aumentar o salário dos docentes na proporção que os desafios atuais exigem teria grande impacto nos orçamentos federal, estadual e municipal. Mas é indispensável avançar gradualmente, acompanhando o aumento salarial com avanços na profissionalização, formação, reciclagem e responsabilidade pelos resultados. Professores bem remunerados podem não significar necessariamente uma melhora do ensino em curto prazo, mas certamente em médio e longo prazos a presença de professores bem pagos fará diferença nas salas de aula.
Fonte: Jornal O Globo
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